
O peixe frito acompanhado da açorda é também um dos mais tradicionais pratos da nossa cozinha. O peixe que sempre abundou no nosso país e a preços bastante em conta está presente em inúmeros pratos nacionais. Da açorda podemos dizer que faz parte da nossa cultura, é uma invenção colectiva e é essa a sua história.
Durante muito tempo alimentou trabalhadores braçais no campo e as suas familias, sendo constituida por pão, água, alho e ervas aromáticas que vão dos coentros ao poejo. Regra geral levam um ovo por pessoa ou quando o dinheiro escasseava, o ovo era defeito para dar para todos. Conhece-se a versão da açorda seca e da açorda sopa, mais usual na região do alentejo.
Encontramos par da açordas nas sopas francesas - l'aigo boulido - e nas sopas espanholas - sopas de ajo blanco. Estas são igualmente confeccionadas com água, pão e alho, coma diferença que a sopa castelhana não é confeccionada com ervas aromáticas, mas com pimentão e a francesa usa o louro e a salva.
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Pescada Frita
Ingredientes para 2 pessoas
500 gr de postas finas de pescada
farinha de milho qb
1 ovo
sal
salsa
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Confecção
- Tempere a pescada de sal com alguma antecedência.
- Prepare num prato a farinha de milho, misturada com a salsa e noutro o ovo batido.
- Lave o peixe e seque-o muito bem.
- Passe o peixe pelo ovo batido e depois pela farinha e leve a fritar em óleo bem quente.
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Açorda
Ingredientes para 2 pessoas
1 pão saloio com cerca de 800 gr
água qb
sal
3 ovos inteiros
azeite
2 dentes de alho
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Confecção
- Comece por migar o pão em pedaços pequenos e junte-lhe água para que amoleça.
- Numa frigideira deite um fio de azeite e aloure os alhos inteiros.
- Junte o pão escorrido, tempere com uma pitada de sal e deixe cozinhar uns 15 minutos, sensivelmente.
- Bata os ovos e junte-os ao preparado, mexendo até os ovos cozerem a gosto.
A receita original leva coentros, não os tinha, mas deve acrescentá-los para aromatizar a açorda.
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Saiba mais sobre... a açorda.
Acredita-se que as açordas são uma herança árabe no nosso país, tratando-se de um prato de subsistência , consequência de graves crises de carência alimentar , feita com produtos base. O pão é desde sempre o mais básico alimento , presente na nossa cozinha sob diversas formas.
Quando analisamos as fontes, receituário, da presença árabe na península encontramos muitas sopas às quais se adicionava pão esfarelado ou cortado grosseiramente. Parece ser esta a origem das açordas. No entanto quase só na zona sul do país assumimos a designação açorda. Este termo nunca aparece associado às sopas de pão que ainda hoje se confeccionam nas Beiras ou Trás-os-Montes.
.No tratado de cozinha árabe, Kitâb-al-tabîj, dos séculos X e XI, de autor anónimo, encontramos a primeira designação de açorda. Noutro tratado, de Ibn Abd al-Ra’uf, também se refere a açorda, com a designação de Tarid ou Tarida, em árabe, que quer dizer pão migado, ao qual se junta alho, coentros e água quente.
Em consulta de dicionários de árabe encontramos ainda o termo Ath thurdâ, que significa sopa com pão.Mas é no século XIII que nos surge o mais famoso tratado da época. Trata-se da obra “Fudalat al-Khiwan…” escrito por Ibn Razin Tujibi entre 1238 e 1266, e cujo título eu traduzo, a partir do francês, para “As Delícias da Mesa e os Melhores Tipos de Comida”.
Neste livro há um capítulo dedicado às Panades (sopas com pão) logo de seguida ao capítulo do pão. Encontramos 25 receitas de Panades maioritariamente enriquecidas com carnes desde o frango ao capão, passando pelo pombo e borrego ou pelo cordeiro.
Encontramos em Gil Vicente possivelmente a primeira designação de açorda, na Farsa dos Almocreves: “Tendes uma voz tão gorda/ que parece alifante/ depois de farto de açorda”. No primeiro livro de cozinha impresso em Portugal, de Domingos Rodrigues, “A Arte de Cozinha…”, em 1680, é feita uma clara distinção entre caldos e sopas, sendo que estas eram sempre confeccionadas com pão, ou este adicionado no final.
Em 1876 publica João da Mata o seu “Arte de Cozinha” especialmente destinado aos profissionais. Encontramos aqui a açorda com bacalhau, uma sopa de pão à portuguesa e ainda outras sopas com pão. A açorda aqui receituada não é uma sopa mas uma açorda muito semelhante às que hoje encontramos. Este livro entra com facilidade no século XX e será o manual dos profissionais da época.
Mas é com Carlos Bento da Maia, edição de 1904, com o título “Tratado Completo de Cozinha e Copa”, que as açordas aparecem como confecção culinária e ilustradas com onze receitas, e fazendo bem a separação das muitas sopas com pão. Estamos na época do aparecimento de restaurantes, e a cozinha regional começa a evidenciar-se.
Em 1936 publica-se o livro “Culinária Portuguesa”, de António Maria de Oliveira Bello no qual é verdadeiramente feito o elogia e defesa da cozinha regional, onde são apresentadas sete receitas de açorda. Já mesmo autor tinha publicado no livro “Culinária”, 1928, uma receita de Açorda de Alhos à Portuguesa enquanto sopa à base de pão, sobre a qual se colocava ovos estrelados preparados à parte, ou ovos escalfados.
Será a partir desta receita que nos aparece a “açorda à alentejana”, que enquanto açorda é a única sopa do nosso receituário regional?Em 1940 publica-se o livro “Volúpia” de Albino Forjaz de Sampaio, e na minha opinião o primeiro livro de gastronomia em Portugal.
Primeiro temos a açorda/sopa de que a Açorda Alentejana é o melhor exemplo. Depois a glorificação das açordas como prato completo e a imensa variedade de receituário desde o Douro, toda a costa atlântica com peixes e mariscos, da Beira ao Alentejo com o bacalhau, e o Alentejo com as carnes de porco e enchidos.
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Que delícia... Não conhecia essa açorda... bem interessante!
ResponderEliminarAbraços, Daniana
http://cozinhasemdrama.blogspot.com/
Que delicia...tão simples e tão prazeiroso. Beijinho
ResponderEliminarolá! è mesmo, uma refeição bem tradicional e muito boa. Pescada frita com açorda! Só faltaram os coentros que não havia!ahaha
ResponderEliminarobrigada pela visita e pelos comentários!
bjos