Não podia faltar no blogue uma publicação da tão tradicional sardinha assada na brasa com a tão típica salada de pimentos que a acompanha.
Associada desde sempre à alimentação popular, a sardinha começa hoje a ser usada também por grandes chefes. Pela sua abundância na costa portuguesa a sardinha era um peixe barato e acessível, ao contrário de hoje que chega a atingir facilmente os 10€ o kg.
A época ideal para a consumir é de Junho a Outubro, meses em que tem o melhor sabor e quem não gosta nestes meses de uma bela sardinha assada na brasa, servida tradicionalmente no pão, ou no prato?
Para assar a sardinha na brasa ( que é um peixe gordo) o lume deve já estar muito brando ( o carvão fica esbranquiçado) e cada sardinha deve assar de cada lado 2 ou 3 minutos no máximo, até alourar, mas sem a deixar ficar seca. No final é só servir, com ou sem pão, degustar e aproveitar um dos peixes com mais benefícios para a nossa saúde que existe!
Receita para 2 pessoas
Grau de dificuldade - fácil
Tempo de confecção - 30 m
Ingredientes
- 15 sardinhas
- sal q.b.
Salada
- meio pimento encarnado
- meio pimento verde
- meia cebola pequena
- alface q.b.
- tomate q.b.
- azeite e vinagre q.b.
- sal q.b.
Confecção
1. Tempere as sardinhas de sal. Prepare o lume e quando já tiver colocado o carvão coloque os pimentos a assar. Quando a pele estiver preta retire-os, coloque-os num saco de plástico, feche e deixe assim uns 10 minutos, este processo fará com que os pimentos acabem de cozinhar ao vapor e facilita o retirar da pele do pimento.
2. Quando o lume já estiver brando coloque as sardinhas a assar 2 ou 3 minutos de cada lado, até alourarem, mas sem as passar demais para não secarem. Retire-as então da grelha e coloque numa travessa.
3. Abra o saco dos pimentos e retire-lhes a pele. Desfie-os com as mãos em tiras. Arranje a alface e o tomate e coloque numa saladeira. Por cima disponha os pimentos e de seguida a cebola cortada em rodelas. Tempere a gosto de sal, azeite e vinagre. mexa a salada de seguida.
4. Sirva a sardinha assada na brasa por cima de uma fatia de pão, no prato mas sempre com a tradicional salada de pimentos.
Bom apetite!
Nota
Encontrei um artigo muito interessante sobre a história e importância da sardinha na cultura gastronómica portuguesa. Deixo aqui esse texto com referência ao seu autor.
Sardinha, rica sardinha
" A sardinha sempre foi associada a alimentação popular e recentemente assistimos à sua utilização por grandes chefes e para grandes mesas, que dizer, alta gastronomia ou cozinha de autor.
Ninguém como os Portugueses para se deliciarem com sardinhas assadas e colocadas sobre fatia de pão de mistura. Claro que instintivamente a tradição de comer sardinhas está associada à época em que o seu sabor é melhor. Por isso a sardinha transforma-se em emblema culinário das festas populares de Junho. E lá diz o ditado: “No S. João a sardinha pinga no pão”.
Claro que a sardinha é também o elemento culinário do Santo António. É de facto neste tempo que a sardinha está gorda, a sua pele liberta-se com facilidade e a sua gordura embebe o pão de forma gulosa.
Domingos Rodrigues (1680), autor do primeiro livro de receitas em portugal sugere os meses de Novembro e Dezembro, apesar de não dar nenhuma receita. Lucas Rigaud (1780) nem sequer menciona as sardinhas. Já João da Mata (1876) lhe concede honras de três receitas: Sardinhas à Mata, Sardinhas em Pastelinhos à Portuguesa, e Sardinhas em Espiches.
Olleboma (1936), autor de Culinária Portuguesa recomendava que a sardinha fosse consumida de Junho a Outubro pois eram os meses de melhor sabor e menciona que “a sardinha é o peixe mais abundante em toda a costa de Portugal… consome-se fresca, salgada e em conserva de azeite”. Como modos de confecção apresenta várias receitas de fritas, grelhadas ou assadas na brasa, recheadas e fritas com molho de tomate à moda de Setúbal.
Não vou continuar a relatar a presença da sardinha nos clássicos de receituários de culinária portuguesa. Devo, no entanto, referir a importância que a indústria conserveira teve durante o século XX.
O sistema de conserva dos alimentos após cozedura e isolamento do ar foi descoberto por um cozinheiro francês de nome Appert e já em 1804. Mas é em Inglaterra que se estabelece em 1810 a primeira indústria de conservas em folha-de-flandres, mas o produto final era muito caro pelo seu manuseamento.
Curioso é encontrar já uma receita de sardinhas no famoso livro, que eu traduzo directamente do francês para “As delícias da mesa e os melhores tipos de comida”, de Ibn Razin Tujibi, escrito entre 1238 e 1266, e publicado no tempo da dinastias Almohade e Mérinide, no domínio de Al Andalus e do Maghreb. Isto porque a sardinha era considerada um peixe popular, ou menor.
Será fácil admitir que a sardinha já constava dos peixes que os romanos consumiam e que seria um dos elementos que entrava no famoso garum. Este seria uma pasta de peixe imaginada como sistema de conservação do peixe após a chegada dos barcos, e de cujo fabrico temos informações de Setúbal e Monte Gordo, condizentemente os locais onde se estabeleceram as primeiras indústrias de conserva.
Durante a Idade Média haveria até 240 dias de jejum de carne pelo que os frutos pesqueiros seriam a base da alimentação. A sardinha era primordial. Consta mesmo que no primeiro “restaurante” instalado na Praça da Ribeira, o Mal Cozinhado, se prestaria a fritar o peixe e servi-lo sobre fatias de pão.
A sardinha transformou-se num produto popular pelo seu preço, e vulgarizou-se, como a melhor forma de a saborear, assada na brasa.
A sardinha durante o século XX teve picos de glória e de abandono, deixando de ser prato de mesas finas ou abastadas. Para o interior vinham em barricas com sal pois para as grandes tarefas agrícolas era necessário contratar galegos que não abdicavam de comer peixe. Outras formas, de conservação, levaram à criação de outro receituário como as empadas ou bolas de sardinha.
A importância popular da sardinha foi, e é, tão grande que a linguagem proverbial a adoptou em vários sentidos:
- “Da garganta para baixo, tanto sabe a galinha como a sardinha”
- “Na tua casa não tens sardinha e na alheia pedes galinha”
- “Nem sempre galinha, nem sempre sardinha”
- “A mulher e a sardinha querem-se pequenina”
- “A mulher e a sardinha quanto maior mais danadinha”
- “Não há comida abaixo da sardinha, nem burro abaixo de jumento”
- “Se tens sardinha… não andes à cata de peru”
- “Estar apertado como sardinha em lata”
- “Comer sardinha e arrotar pescada”
- “Tirar a sardinha com a mão do gato”
Autor : Virgílio Nogueira Gomes
Ja tenho saudades de uma boa sardinhada!
ResponderEliminarO meu almoço de ontem ;) Adoro!
ResponderEliminarQue refeição deliciosa :P
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